quarta-feira, 2 de março de 2011

O Anaconda
Jb.campos

Doutor Pascola, vulgo Anaconda, fora um tenente do exército brasileiro, onde tratava dos caninos da tropa, e nas horas vagas exercia em paralelo a profissão de cirurgião dentista com placa de reclame e tudo mais.
Sua placa de "marketing" era confeccionada em cobre, e era conservada com esmerado polimento, tal o orgulho do cirurgião, que a baldeava nas suas andanças territoriais...
Casado com Paloma, uma bela senhora de meia idade, e tinha dois belos filhos, Roberto, de 14 anos, e Carlos de 16 anos.
Paloma já estava muito cansada daquela vida tocada pelo vento, ao deus-dará.
O tenente era constantemente destacado para lugares desconhecidos, no vasto território nacional, nem bem criava raiz onde chegava, e qual sua surpresa... era transferido para outra unidade militar.
Era um Anaconda Federal, por assim dizer.
Pascola era realmente subserviente aos seus superiores, e à sua Paloma, que o acompanhava com muito mau-humor.
Em sua vida de militante, conhecia muitos recantos do país, porém, seu grande medo situava-se no território amazônico, tremia dentro de seu requintado uniforme verde oliva, quando em discussão com Paloma, que conhecendo o seu ponto fraco, lhe dizia:
A bem da verdade, Paloma é, quem era uma sucuri peçonhenta, se é que existe veneno nessa espécie de alimária (animal) rastejante que, rojando (rastejando) vive à espreita de sua presa.
Você, ainda será mandado para o Amazonas, e será comido por uma Anaconda, ou uma sucuri, se é, que não sabe o que é uma Anaconda... e, depois de comido transformar-se-á em uma áspide de sua espécie, Pascola Anaconda!
Sempre arrematando sua frase com essa alcunha.
Paloma, apesar dos pesares, era promíscua sobremaneira, e Anaconda, parecia de fazer de cego, tal a paixão que nutria pela bela esposa, que o traía despudoradamente.
Bem, ela tinha um batalhão de jovens para se divertir, naqueles dias em que os recrutas cuidavam das moradias dos oficiais, coisas de barnabés enfardados...
Era traumatizado pelos ofídios, pois, passou sua infância na megalópole paulista, nos arredores do serpentário do Instituto Butantã, cujo nome nos arremete ao grande descobridor do soro anti-ofídico, Vital Brasil.
Estudava ali nas imediações do serpentário, onde presenciou a morte de um de seus professores de biologia, o doutor Fidelis, uma autoridade em serpentes.
Pareceu coisa do destino, essa autoridade que defendeu tese em coral, uma cobra muito venenosa quando coral-verdadeira, posto que existe a falsa, que é inofensiva.
Ao principiar de uma de suas aulas, o professor Fidelis pegou uma coral que fora levada por um de seus alunos, e começou uma explanação sobre aquele animalzinho avermelhado com listras pretas, dizendo ser uma cobra coral, porém, falsa.
E, logo de cara, foi picado pela viperina, a aula duraria duas horas aproximadamente, pois, era uma aula preparatória para um exame eminente aos seus alunos.
Ninguém se preocupou com aquele fato, já que se tratava do doutor Fidelis, uma sumidade naquela matéria do respectivo curso, P.h.D em coral...
Porém, lá pelas tantas, o professor Fidelis começa esmaecer-se diante da classe, e em seguida tomba desfalecendo, pois, tratava-se de uma cobra coral-verdadeira e, que se confunde sobremaneira com a falsa, e sua picada é simplesmente mortal, talvez o doutor Fidelis, até tivesse algum tipo de alergia, além da peçonha implacável do animal.
O professor Fidelis era vizinho e amigo da família Pascola, seus pais eram íntimos da família Fidelis.
Famílias tradicionais, nasciam e viviam nas imediações da grande São Paulo, uma das maiores cidades do planeta.
Pascola era numismático, ou seja, era um colecionador de moedas antigas, e o professor Fidelis também, e constantemente barganhavam suas relíquias, e agora Pascola perdera aquele que fora companheiro de entretenimento cultural e mestre.
Pascola detinha uma coleção razoável de moedas chinesas, marroquinas, americanas, etc...
Diziam as más línguas que o nome Pascola, teria sido um erro de grafia cometido pelo escriturário do cartório de registros, que grafou Pascola no seu batistério ao invés de Pascoal, que deveria ser o seu legítimo nome.
Voltando ao desenrolar da serpente, foi uma correria infernal para acudir o professor, apesar das proximidades do grande produtor de soro anti-ofídico, nada foi possível fazer pelo encanecido mestre.
Quando do acontecido, Pascola aproximou-se do velho declinado, no elã de ajudá-lo, e ao fitar o moribundo, ficou chocado com as palavras dirigidas a ele pela indefesa vítima daquela picada, apenas uma, porém mortífera, e que era também padrinho de nascimento de Pascola, pontos eqüidistantes (morte e vida) e o destino encarregou-se de colocá-los como aluno e professor naqueles dias nefastos, então o mestre, lhe diz:
Meu querido Pascola, a quem vi nascer, e que agora me vê morrer, ironia do destino, peço-lhe que console meus familiares dizendo-lhes que parto feliz, por cumprir a minha missão de mestre nesta vida, e como discípulo deixo-a pela minha insensatez e ignorância, atente e aprenda com o meu desfalecimento, pensamos saber alguma coisa, porém, morremos sem saber nada, apesar destas minhas palavras... aprenda com a minha partida para o além, e nunca confie na tese, pois, os doutores a defendem, porém, já dizia o velho ditado: "Mais vale a prática do que a gramática!"
Pronunciando estas palavras com muita dificuldade, sucumbiu desta vida para uma... melhor.
Daquele dia em diante, Pascola não fora mais o mesmo, pegou ojeriza pelas peçonhentas criaturas e, lá se foi a famosa Anaconda embrulhada nesse pacote mental do jovem.
Criou em sua psique um enorme trauma pelas cobras em geral, e não raramente tinha visões alucinógenas com elas, sempre travando lutas renhidas, que o faziam crer quase em realidade plasmada, igualmente ao viciado em alcoolismo com seus delírios...
Um belo dia, Pascola estava batendo uma bolinha com o capitão Trindade, e era bom de futebol o danado, mas, sempre se fazia de perneta no elã de puxar o saco do capitão, que era o seu imediato superior, pois, tornaram-se bons amigos, e qual a surpresa quando ouve da boca do capitão:
Caro Pascola, nossa amizade foi boa enquanto durou... ao menos do ponto de vista de contato pessoal...
Não entendi! - disse o tenente.
Quero lhe revelar um segredo, e somente o faço em nome da nossa amizade:
Você será transferido para um estado nortista do país.
Quando ouviu sibilar-lhe aos ouvidos a palavra nortista, ficou pálido e quase desmaiou.
E, em seguida, perguntou:
Seria o Amozonas, capitão Trindade?
Sinto muito, amigo, mas, não posso dizer o estado, porém, afirmo-lhe, é um grande estado.
Que maçada, deve ser o Amazonas mesmo!
Preocupado, pergunta ao amigo e superior:
Capitão, seria em alguma capital?
Bem, vou dar-lhe a última dica, e encerramos o assunto, ok?
Sim!
Fronteira, amigo, fronteira...
Mais uma vez empalidece o tenente amedrontado, e com a mente fixada no seu fetiche, a Anaconda, posto que, por masoquismo assistiu por várias vezes o famoso filme que leva o mesmo nome confabulado pela mídia cinematográfica.
Nem ele conseguia entender aquele distúrbio mental, que o tirava da realidade da vida comum de ser humano.
Apesar de exercer certa autoridade militar sobre sua família, leva uma bofetada no rosto quando sonha com a sucuri, pois, agredira involuntariamente a sua Paloma, que dormia ao seu lado, era uma madruga fria do mês de junho, e o gramado de sua residência estava coberto pela geada, pois, residia no sul do país, lugar bem frio por sinal.
Paloma era mestra em karatê, faixa preta em Kung Fu, e não gostava nada das mudanças que andarilhava a fazer com as repetidas transferências do marido.
Ministrava aulas de suas artes marciais a muitos alunos por onde residia, mas, quando começava a conhecê-los, lá vinha a má notícia, e esta última seria o fim da picada.
Pascola seria o odontólogo dos pobres, por uma campanha militar, editada pelo governo federal etc...
Olhe só, o que o homem sonhou:
Estava em plena selva, fardado com roupa de camuflagem, debaixo de um cinamomo (jasmim-de-soldado), uma árvore que vinha a calhar com a sua honrada profissão de defender a pátria amada, mas, o que ele não esperava era a tal Anaconda aparecer por ali... e... apareceu!
O susto foi tão grande que, passou a mão no seu fuzil e, como a serpente estava muito próxima, deu-lha uma coronhada e, consequentemente socou a boca estomacal de Paloma, e em resposta compulsiva tomou um belo soco no pé do ouvido que o fez acordar atordoado e aos gritos:
Anaconda, anaconda... Enquanto Paloma replicava:
Anaconda é você, seu besta! Enquanto enchia-o de porrada...
Inconscientemente pulou a janela do quarto, caindo do primeiro andar de sua casa assobradada, indo esborrachar-se na relva entumecida pela geada, e o pior aconteceu: fraturou a perna direita, enquanto era atacado por Sansão, seu cão de guarda, da raça Policial, que o confundira com um ladrão, em contrapartida entendia ele, que Sansão era a Anaconda, a cobra de seus pesadelos.
O qüiproquó foi de tal monta que, acordou a vizinhança, as pessoas juntaram-se defronte da cerca baixa de sua residência padronizada, e construída em uma vila militar.
E todos se perguntavam:
O tenente Pascola está ruim do juízo, por que luta com o seu próprio cachorro?
Aos poucos foi recobrando o sentido e caindo em si, passando a chorar e acariciar Sansão, que por sua vez lambia-lhe a boca...
Fora uma cena macarrônica, principalmente àqueles que chegaram atrasados, assistindo um oficial do nosso glorioso exército, chorando e sendo lambido na boca pelo animal de estimação, e o que ainda era pior: estava desnudo.
Com aquela platéia de família militar, se pergunta:
- O que está acontecendo comigo, e o que estou fazendo somente de cueca num frio desses de mês de junho, com essa gentarada me olhando?
Que explicação daria ao capitão Trindade, quando lhe perguntasse sobre aquele acontecimento...
Tinha muito respeito e admiração pelo capitão Trindade, se alguém ali na corporação teria de ser admirado... seria o capitão, talvez nutrisse pelo companheiro um misto de inveja e amizade, se e que se pode jungir estes dois sentimentos humanos.
Tentando levantar-se, a lancetada na sua perna direita foi fatal, e o pobre agora gritava de dor, enquanto um sargento tenta fazer uma piada de caserna com o oficial, que irascível, e choramingando dá-lhe voz de prisão, porém, estavam todos à paisana, e que autoridade teria alguém que lutava com seu cão, vestindo uma pequena tanga que mal cobria suas partes pudendas... enquanto o capitão Trindade e sua família assistiam tudo da janela de seus quartos de vizinhos "discretos".
A gozação foi sobremaneira encima de Pascola, que ao tratar dos dentes de seus subalternos e superiores, fazia de tudo para mantê-los de bocas fechadas, e tinha de fazer o contrário, mantê-los de bocas bem abertas para não ouvir as gozações, ou ao mínimo as perguntas imbecis da curiosa clientela oliveira.
Era um ótimo profissional, conhecia tudo da sua profissão, desde transplante a implante, vivia se gabando dos seus dotes, com termos técnicos, como face palatal, face vestibular etc...
Naqueles dias, andou ali de ser punido, por um triz não foi enquadrado pelo major da corporação, pois, ao recebê-lo em seu consultório, ficou muito furioso e ofendeu o seu superior com palavras de baixo calão, perdeu as estribeiras mesmo.
Com a perna ainda engessada, recebe o major Tarquínio em seu consultório particular, e ninguém era tão gozador como aquela criatura, nem parecia uma autoridade militar.
- Olá, doutor Pascola, diz-lhe o major Tarquínio.
- Como vai, major.
Como bons vizinhos, suas esposas se davam muito bem nas fofocas locais, portanto, a mulher do major sabia de todos os detalhes daqueles acontecimentos, e confidenciara ao marido.
Estou de boca aberta com suas aventuras, tenente, somente um dentista tão aquilatado como você, poderia me deixar de boca aberta...
Eminentemente replica-lhe o dentista:
Perguntei se está tudo bem, senhor?
Não tão bem como você, que luta com anacondas, cães, e esposa, e de lambujem quebra a perna, e leva umas mordidas e, ainda vem trabalhar, você realmente é um Duque de Caxias, (Patrono do Exército Brasileiro) quanta bravura, meu caro.
Ah... o major nem terminou a frase, e já foi ofendido visceralmente pelo tenente, que renegou peremptoriamente em fazer o tratamento palatal na arcada do major, além de ofendê-lo profundamente.
O major, foi muito bacana, reconhecendo o seu erro, pedindo-lhe desculpas, e falando ao tenente que não esperava dele uma atitude sem a respectiva esportividade, afinal ambos passaram pelos trotes acadêmicos etc...
Mas, ficou um certo ranço, resquício de mágoa, na mente do major que, lançou uma outra frase, fazendo o tenente bambear nas pernas, tremendo sobre seus artelhos...
Meu caro tenente, Marechal Rondom te chama, irás ser isca de anaconda, meu amigo, e com certeza abreviarei teus dias.
Rondom, fora o predecessor telegráfico no Brasil, desbravando sertões, e enfrentando índios, e fora flexado por várias vezes, sem jamais revidar aos ataques dos silvícolas, percorreu milhares e milhares de quilômetros, instalando linhas telegráficas de ponta a ponta em nosso território continental.
A expectativa assolava o coração de Pascola, acabou entrando em paranóia, tornando insuportável a sua presença amarga, a fobia tomara conta do tenente.
Pesadelos, faziam com que ele pulasse em sobressalto, sobre Paloma que, já não agüentava mais aquela situação, e muitas vezes para se defender de seus alucinógenos ataques, tinha de pregar-lhe as mãos na cara.
Os filhos, e a mãe pensaram em internação psiquiátrica ao atrapalhado estafermo.
Porém, o orgulho falava mais alto na vida do tenente, sendo que Paloma foi até o major Tarquínio para implorar-lhe o cancelamento de mais aquela transferência, mas, ficou surpresa com a frieza do amigo major, que tanto freqüentou o seu lar, juntamente com a esposa, e que foi lacônico com um curto não.
Apesar dos pesares, Pascola jamais pediria arreglo a seus superiores, com fobia, ou sem fobia, cumpriria sua missão de bom soldado brasileiro, e nem sequer ficou sabendo da humilhação que submetera Paloma no afa de impedir mais uma transferência surgida aleatoriamente em suas vidas.
Mais uma, entre tantas outras vezes formulou-se a ordem de partida para o estado mais cobiçado do mundo, o Amazonas, quanta vastidão e riqueza natural há neste mundaréu de nosso Deus, o mundo amazônico referto de vida natural, até porque, toda vida na terra é sustentada pela natureza divina.
Como sempre... choros, despedidas, amplexos efusivos, e outros sentimentos mais, e lá rumou o tenente com sua família para o famigerado estado nortista do país.
Impressionante é, a metamorfose que sofre o ser humano nas andanças pela vida na terra.
Aquele tímido ser humano, tornou-se um temerário desertor do exército, bem... essa história contaremos mais adiante, pois, o tenente nem ainda chegara no fabuloso e sanhudo local, e que seria exatamente na divisa territorial do país com um outro, porém, grande traficante de narcóticos, fazendo esse malfadado destino uma nação subsistir do refino da cocaína e congêneres...
A priori o nosso protagonista, procurou montar o seu consultório dentário, mas, quando andava pelas ruas da pequena cidade fronteiriça, espreitando com constância um resquício qualquer de anaconda, realmente tornou-se mais obcecado ainda pelo bichinho que engole até um bezerro.
As fantasias de Pascola eram descomunais, uma paranóia total, ali em plena selva, não tinha sossego no seu pensamento, pois, seus pesadelos repetidos estavam deixando-o com a mente estouvada, e desnorteada literalmente.
Bem, o lugar era medonho... parecia-lhe que, índios e grandes cobras espreitavam-no o tempo todo.
Seus filhos estavam revoltados, pois, o lugarejo apenas tinha a base militar onde estudavam e praticavam esporte etc...

A FOBIA TRANSFORMA-SE EM VALENTIA.

Parece mesmo que, veneno com veneno se cura... aquele que fora uma pessoa covarde, dá um giro de 360° - tornando-se um desertor de sua nobre missão de cuidar dos menos favorecidos da sorte.
Após viver alguns meses num lugar inóspito para aquela que já fora dama de sociedades movimentas por onde passara, agora insulada nos confins do mundo... não deu mais, pediu a separação, e este fato tisnou de vez a mente já obscurecida de Pascola.
A punhalada foi demais, posto que fora uma pessoa pudica a vida toda junto de sua paixão.
O tenente estava mais do que nunca a sós, até os filhos ficaram na cidade grande para conclusão de seus estudos etc...
Houve um revertério em sua cabeça, e movido por uma força estranha passa de pacato dentista a revolucionário, e já que estava na divisa com o decantado país das drogas, juntou-se às milícias revolucionárias.
Talvez tenha se inspirado no médico argentino, e herói cubano, Che Guevara comprando assim uma briga fora do país, e sabe-se lá mais o que...
Tornou-se um facínora, procurado pelas autoridades militares de ambos os países...
Ficamos a imaginar sobre as mudanças pelas quais passa a mente humana, no caso do tenente que já não mais se incomodava com as serpentes, imiscuindo-se entre terroristas e assassinos, que apoiado nos seus conceitos praticavam as mesmas atrocidades dos sistemas legalizados também pela mente mórbida do homem.
Apenas trocou de farda e, agora togado pela justiça de terrorista fazia uso de seu boticão para trucidar bocas inimigas, tornando-se crudelíssima criatura, uma espécie de conversão ao mal.
Soube-se de casos em que o algoz extraiu dentes perfeitos e saudáveis de seus inimigos, e sem as conhecidas anestesias.
Era temido entre os de sua facção, e tornara-se um de seus líderes e, para vencer o medo transformou-se num corajoso guerrilheiro, porém, teve de conviver com as anacondas locais, e para isso contou com um outro especialista em serpentes, que o fazia recordar do seu velho professor que morrera pela picada daquela coral...
Juan era o nome de seu mestre, um índio que conhecia os costumes das cobras, e lhe ensinou muitas magias que cientista nenhum conhece, mas Juan as conhecia como ninguém, pois, quando pajé de sua tribo era respeitadíssimo entre seus irmãos, até que um dia resolveu deixar tudo e tornar-se um guerrilheiro também, coisa rara a um pajé de renome tribal.
Pajé também apaixona-se, enlevado pelas seduções de Cristiane, entregou-se aos seus belos e sedosos braços cobertos pelo brim de uma farda também oliva camuflada.
Pascola, tornou-se eunuco, e calcado em uma filosofia religiosa criada pela sua mente, desandou a fazer suas justiças em nome de Deus.
Agora afetado pela inquisição papal, ou seja: "A Santa Inquisição", pois, lera tudo sobre o assunto e, sem clemência expurgava pecadores do sistema global.
Como pode haver mudança tão radical no ser humano?
Com a mente destrambelhada e inspirada no nazismo, sentia-se um Adolf em seu uniforme de pseudo justiceiro, pois, como tal já fora um medíocre pintor de telas, e um pacato cidadão astríaco.
Tinha o seu lado positivo, ainda praticava a sua odontologia aos seus parceiros, e aos índios que viviam por aquelas plagas.
Devido a hipocrisia de seus caudilhos, deixou de crer no sistema de vida humana, apelando para sua mão "justiceira", praticando os mais escabrosos crimes sobre seus adversários.
Ele agora atinha-se à lei natural das espécies, dizendo para seus comandados que a lei sempre fora e seria a do mais forte, dizendo: Quem pode, manda, quem é inteligente, obedece!
Rivalizava seus homens com os animais irracionais, aliás, não eram nada diferentes, a não ser pela malévola frivolidade de matarem com certa consciência humana, tornando-os mais pérfidos...
Um belo dia, achou um simples livro, cujo autor fora grande filósofo hindu, e leu e releu seus gloriosos ensinamentos, posto que, no lugar em que estava despendia de certo tempo para a rica leitura.
Uma nova conversão estava processando naquela alma baralhada...
Chegava à conclusão de que esta vida era muita insignificante para tanta crueldade e maldade, embora, tenha aprendido que, algum motivo existia para que tudo ocorresse como sintoma de uma vida pregressa, assim pensava ele agora a respeito da vida pela qual vivia seus dias de nefandas atitudes.
Resolveu voltar às suas origens, oriundas de uma cidade pacata do interior paulista, porém, estava envolvido com a máfia do narcotráfico daquela facção criminosa.
E o que fazer?
Cabisbaixo, andava pelo acampamento, desanimado em suas ações, então fora chamado à dar explicações de seus apáticos procedimentos.
Escobar, o grande chefão chama-o a autoria e, surpreende-se com a malfadada exortação ao bem comum, além, das contundentes explicações que dera sobre o livro que lera de auto conhecimento, esperava alguma compreensão do chefe, realmente Pascola era sobremaneira infantil, e por assim ser, vivia pisando na bola.
Escobar era um simpatizante de Pascola, porém, seus seguidores estavam reclamando do jeito que a filósofa criatura estava se portando diante da comunidade.
Fora pego por várias vezes em estado de profunda meditação, enquanto, seus comparsas lutavam em sangrentas guerrilhas.
Novos reclamos fizeram com que Escobar convocasse-o para uma nova conversa, porém, desta feita, fora uma fala repreensível e contundente.
Entra Pascola, e com o costumeiro respeito, diz a Escobar:
Pois não, comandante...
Replica-lhe o chefe:
Pascola... Pascola... você está deveras trazendo-nos sérios problemas...
Cadê aquela sua liderança de outrora?
Resumindo o assunto, o chefe fora ameno com o trapalhão, e mandou colocá-lo dentro de uma canoa e que a soltasse corredeira abaixo fazendo com que retornasse ao território brasileiro, e não deu outra, lá estava o figurão retornando ao seu famigerado estado amazônico com suas anacondas e tudo mais...
Era um exímio atirador, e pedindo para que pudesse levar consigo uma arma de grosso calibre municiada, assim lhe fora concedido.
Desembarcou daquela canoa em um vilarejo onde tinha alguns amigos e, não demorou para encontrar com a famigerada anaconda, que tinha uns 5 metros de comprimento, porém, com precisão atirara nas ventas da grande cobra, que a levou a morte.
E, para demonstrar a sua coragem, pediu a um alfaiate da aldeia costurasse uma roupa com a pele da assustadora cobra, após curti-la conforme lhe ensinara o indigena.
Em bem pouco tempo, rumou para sua cidade de origem a São Paulo de sua juventude, e informando-se do paradeiro de Paloma, que estava morando em uma cidade do interior do estado com seus dois filhos.
Foi atrás de sua sempre amada, e a encontrou casualmente numa das praças daquela cidade e, qual o espanto de Paloma, quando vislumbra aquele homem com aquela roupagem de pele de anaconda, e ficou mais admirada ainda quando apercebeu de que se tratava de Pascola...
Ao contrário do que se imaginava, Paloma chorou ao rever o seu amado, desculpando-se do que houvera ocorrido entre os dois, e agora vão ao encontro dos filhos que já exerciam a mesma profissão paterna, a de dentista.
Os jovens montaram uma clínica cirúrgica e, levaram o pai para trabalhar com eles, embora, o velho fosse procurado pelas autoridades militares.
Clinicou juntamente com seus filhos por vários anos, e por mais uma ironia da vida, certo dia recebe um coronel para tratamento dentário, e era o ex major que a quem maltratara nos idos de seus dias de milícias.
Perplexos, ambas criaturas se defrontam frente a frente, e o coronel lhe pergunta:
O senhor não é,,,
Nem conclui a frase, e recebe a resposta,
Sim coronel, sou eu mesmo!
O coronel fez vista gorda, e apenas pediu um orçamento e, sumiu para sempre, não querendo se envolver em assuntos que a ele não compensava mais, já que estava cansado e aposentado da sua lide.

A DOLOROSA ENTREGA

Viveu por alguns anos ocultando sua identidade, porém, um belo dia resolveu entregar-se à autoridade e teve de amargar alguns meses de cadeia.
Quando aprisionado, teve tempo disponível para uma reflexão profunda e mais uma conversão se processou na sua alma.
Deixou escrito esse aconselhamento, aos desesperado pelos problemas da vida:
Faça da oração a sua diversão
Parece leviandade tratarmos desta forma a oração.
Bem... a natureza divina nos ensina que, tudo na vida tem um preço.
Todos nossos desejos custam alguns valores, sejam de ordem espiritual, ou material.
Quando insone, aproveite o tempo para conversar com Deus, ou consigo mesmo, dialogando, agradecendo e pedindo, assim é, a mais pura oração que a nós nos ensinaram a orar.
Ao mínimo, você estará ocupando o seu pensamento com o bem, posto que pensar redunda na nossa ação plasmada, portanto, ao pensar no bem, fatidicamente estará praticando-o!
A intenção é a maior de todas as pretoras, ou juízas a nos julgar constantemente.
Somos o que pensamos, ou literalmente aquilo que oramos.
Se quiser ser feliz, ocupe o tempo ocioso em diálogos produtivos com Deus, e simplesmente deixe que Ele tome a sua mente dirigindo-a pelos seus caminhos, descanse seus cuidados nas suas mãos, e estará despojando-se do fardo da preocupação.
Aliás, a forma mais evolutiva de se postar diante dos poderes universais, é ficar o máximo que se puder com a mente vazia.
Este é um ensinamento de Jesus, que teve muito tempo para pensar e jejuar em suas quarentenas, haja vista que, a Bíblia o livro que fez a propalação do cristianismo sobre o planeta Terra, na verdade fala muito pouco sobre Jesus, cronologicamente, pode-se ler sobre esse grande mestre do amor; poucos relatos até seus 12 anos de idade, e depois há um interregno (espaço) até seus últimos dias, quando foi crucificado com seus 33 anos de idade.

O seu problema, é do tamanho do seu pensamento, ou da sua preocupação...

O dentista, se inspirara em Tiradentes, seu desejo parecia ser o de herói, mantinha sobre a cabeceira de sua cama uma surrada e amarfanhada Bíblia e, a lia constantemente, embora, tivesse suas perguntas duvidosas sobre seus ensinamentos sempre a lhe riscar o cérebro.
Anaconda, enquanto esteve preso, recordando de seus dias de juventude, escreveu um pequeno livro inspirado num pedaço de giz, com o qual ministrava exemplos sobre uma velha lousa lá do presídio, aos seus companheiros, na assepsia bucal, com o título de:

Meu pedaço de giz

Tenho guardado há muito tempo um insignificante pedaço de giz, pelo qual revivo a minha infância.
Coisas simples da nossa vida, que marcam para sempre a nossa memória...
Lembranças lúdicas de um passado distante, que mora em meu consciente e subconsciente.
Um pedaço de vida com gosto de alegrias e tristezas, coisas da vida.
A realidade é apenas uma só, pois, não se pode conhecer o prazer da alegria, se não mesclá-la com os ultrajes da vida, somente pode-se reconhecer a saúde se conhecer a doença... assim, a tristeza, queiramos ou não, complementa a alegria.
Aqui vale ressaltar o óbvio: O ser humano é composto do bem e do mal, e isto é muito antigo e vem dos primórdios da humanidade, donde surgiram os mais vis atos de maldades, a exemplo de Caim que matou seu irmão Abel.

Gênesis: 4
8 Falou [Caim] com o seu irmão Abel. E, estando eles no campo, [Caim] se levantou contra o seu irmão Abel, e o matou.

Até para ratificar este assunto, um dia desses, estava analisando algumas frutas cítricas lá de casa, que ao longo de alguns anos estão sendo mal cuidadas, porém, estão carregadas com seus saborosos frutos, e também notei a existência de brocas e outras doenças, então rivalizei-as com o bem e o mal, saúde e doença, chegando a conclusão de que nossas vidas são inexoravelmente compostas de dois lados um negativo e outro positivo, tendo de equilibrar-se entre si...
A mãe natureza há milhões de anos vem cuidando do planeta Terra e tantos outros, com a sua inconfundível sabedoria, posto que nenhum cientista, ou intelectual deste velho mundo poder-se-ia rivalizar com ela e sua sapiência...
Conheci um respeitável tabelião lá da minha querida cidade natal, que abilolou-se plenamente, e andarilhava pelas ruas com a mesma roupa de sempre, simplesmente enxovalhado como convém a um doente mental, aquele estafermo senhor fora muito respeitado em seu cartório, lidando com as autoridades locais, afora os magnatas fazendeiros, comerciantes e industriais, pois bem, em suas andanças ajuntava quinquilharias em seu colo, não se sabia para que serviam aquelas bugigangas todas...
Um belo dia, encontrei o Dr. Salustiano e, infelizmente o vi pisar sobre um pedaço de chapa de aço pontiaguda e enferrujada, que estava depositada na sarjeta imunda de uma calçada onde corria dejetos infecto-contagiosos, aquilo me deixou penalizado e arrepiado com o que poderia acontecer ao tabelião...
Tentei ajudá-lo, porém, foi em vão, aquela criatura parecia possuída por alguma força extra-sensorial, e o jeito fora deixá-la aos cuidados de Deus.
Passaram-se alguns meses quando deparei-me com o doutor Salustiano, o Bacharel daquela sociedade, e que não mais exercia a sua nobre profissão, obviamente devido ao seu estado deplorável, pois, seus familiares já o haviam internado nos melhores hospitais psiquiátricos, mas, nada adiantou, ele sempre fugia, devido a sua alta capacidade criativa...
Ao encontrá-lo, fiquei atônito, pasmo ao vislumbrar seu pé que fora ferido profundamente, e infectado com aquela água pútrida, estava completamente sarado, embora sujo como deveria de ser o pé de alguém que nunca parava de andar, pois, com seus pés desnudos, caminhava em sua perturbação mental diuturnamente.
Quantos exemplos temos neste mundão de Deus... a natureza cuida de suas criaturas, esta é a grande verdade.
Como os animais, chamados de irracionais, assim o homem é um repositório pestilento de vidas microviróticas, como se fosse o próprio planeta com sua infinidade de plantas naturais, que nela nascem para servir de agasalho e comida a outros seres animais.
Caro leitor, recentemente, andava sobriamente sobre uma calçada que fazia frente a um colégio, cujo nome sequer sei pronunciar, certamente cunhado com o de algum figurão do passado.
Ao transitar pelo local, senti o meu pé direito triturar algo semelhante a um biscoito, e fui constatar o que havia debaixo do meu sapato solado com uma borracha rígida, uma bota que costumo usar para o trabalho grosseiro do terreiro de minha residência, que situa-se num vergel, retirado do centro da pequena São Roque, local plausível para se morar.
Fui tomado de sentimento nostálgico, parnasiano, por assim dizer, pois, recordei-me dos dias felizes de minha longínqua infância.
A bem da verdade, não sei explicar essa felicidade, ao menos me parece algo que gostaria de relembrar.
Ao auditar o destroço que o meu pé direito causou no confabuloso calcário de cor natural, um simples pedaço de giz, afloraram mil recordações de tempos idos...
O giz, é um ícone para minhas recordações.
Quando das minhas primeiras letras, era um garoto que não gostava de estudar, ou tinha aversão à escola, ou pior ainda... não sei lá o que...
Talvez a explicação encontre-se no pequeno pedaço de giz que guardo como a mais fiel recordação dos fatos ocorridos comigo, da minha conturbada meninice.
Lá estava Noemi, anciã setentona, com suas cãs que a neve do tempo tingiu, deixando-as com a mesma cor daquele giz... tez clara como a própria cabeleira natural, adiposa criatura, parecia-me malévola nos seus despóticos atos praticados na sala de aulas, bem... este era o meu conceito sobre aquela senhora respeitável de antanho.
Com certeza fora uma avó maravilhosa, amorável, boa mãe etc...
E o giz comia solto, posto que era uma arma contra aquela mestra, os perversos guris da classe açoitavam-na pelas costas, atirando-o acintosamente contra a indefesa matrona, que aos berros desencadeava em histerismo brutal a achincalhar-nos com todos os despautérios de antigamente, e até uma antiga arma dos mestres do passado se fazia zurzir sobre o cocuruto de nossas cabeças desajuizadas, de inocentes criaturinhas endiabradas; a régua.
Palmatórias e grãos de milhos faziam o regozijo pleno dos moleques masoquistas daqueles dias, que a mim me traz uma nostálgica saudade da "aurora da minha vida", plagiando os poetas, "era feliz e não sabia..."
O tempo passou, e a sova foi ainda maior, apanhei errante pela vida de pessoa adulta e ilibada, espero...
Hoje, quase à Noemi, descanso, sentado na minha cadeira de balouçar quinquilharia do antiquário da vida, vislumbrando a mata verde aqui do alpendre de minha aconchegante residência de campo, onde pretendo terminar os meus dias, se assim Deus me permitir.
Possuo uma lousa aqui na minha casa, exatamente para poder continuar esbouçando e aprendendo, posto que agora começo tomar conhecimento de que nada aprendi no decorrer de tantos anos de vida.
Pego o giz branco, como a mestra o fazia, e tento imitá-la, escrevo, tento aprender caligrafia e a desenhar, embora sofra de um terrível arrepio do abrasar do giz sobre a ardósia, lápide fria, como era aquela professora, talvez por força circunstancial da vida, que de certa forma nos obriga a todos a caminhar por caminhos que não desejamos, somos conduzidos pelos meandros que nos fizemos jus...
O giz está fragmentado pelos quadrantes da terra, imiscuído aos computadores da modernidade... e Noemi, onde estará?
Muitas vezes colocamo-nos a tecer juízos sobre sanhudas (horríveis) criaturas, com o decorrer de minha existência aprendi a enxergar o interior de pessoas ranzinzas, porém, nobres, caridosas, e talvez sejam as verdadeiras altruístas, que se dão por instinto natural, e por este simples motivo, o giz possa me ensinar como sempre o fez com muitos jovens e velhos deste degradante planeta azul, apesar de enxergarmo-lo negro.
Pois, hoje fico pasmo ao recordar-me da fabulosa e fantástica professora de minhas primeiras letras, sabendo que, ela não necessitava ministrar suas aulas a um bando de alucinadas crianças, pois, era filha de um grande nababo, fazendeiro de minha pequena cidade natal.
Além de tudo, sustentava um asilo e um orfanato, no mais puro anonimato...
Estranha e bondosa criatura, ríspida e mal com a vida, aos nossos olhos de mortais inconscientes...
Certa vez, erigiram-lhe um busto na frente do orfanato, cuja obra fora criada por um escultor de renome, e... fiquei atônito, amigo leitor...
Alta hora da noite flagraram a mestra derribando sua própria escultura com uma enorme marreta, suava freneticamente, esbravejando com tal "vilipêndio"...
Reuniram os poderosos da cidade, prefeito, juiz, delegado, vereadores, professores, etc... e chamaram-na para dar explicações de sua malfadada atitude de destruir um patrimônio público, porém, recusou o convite mandando por escrito os motivos de suas atitudes:

Prezados Senhores:
Minhas desculpas, mas, não me considero com a importância com que me deferem vossas excelências...
Portanto, com suprimidas palavras, agradeço e, peço encarecidamente que, não tornem a repetir esse fato, não me acho com essa dignidade que vós todos me atribuem...
Saudações cordiais
Noemi...

Aquele fato repercutiu até nos meios mais restritos do estado, e o próprio governador fez questão de conhecer a minha mestra, mas, esse privilégio não era para qualquer um, não... por mais que se esforçasse o pobre governador do mais importante estado da união; nada conseguiu, foi peremptoriamente rejeitado por Noemi...
Assim era o seu jeito de ser, sua autenticidade transcendia a normalidade dos mortais, seu Dom natural, portanto, dadiva divina, era o de criar gatos, era espantoso, tinha mais de quarenta bichanos, era uma parafernália total a sua casa, muito pior do que a nossa sala de aula, o desassossego era magistral por lá, mas, pacientemente acariciava chamando todos eles pelos seus respectivos nomes.
Assim era Noemi, estranha, e bondosa criatura.
Tive aula com Noemi no primeiro ano do ensino primário, portanto, aos meus seis, ou sete anos de idade, faz um bocado de tempo, e o giz continua a riscar minha mente agrisalhando-a também através tempo.
Existia naquele ano letivo alguns marmanjos e repetentes, que davam realmente o mau exemplo, e eram os meliantes da classe.
Livrei-me daquela professora que me aterrorizava a vida.
Nunca mais ouvi falar dela, e pela sua já avantajada idade, quem sabe se o Senhor não a tenha chamado para sua glória naqueles dias subsequentes.
Assim é a vida, meteórica, passando como um corisco celeste, e ainda podemos ver a jactância do ser humano tripudiando sobre seus semelhantes, que cegueira ignominiosa.
Mantenho a grande lousa no salão de trabalho da minha casa, na qual escrevo anotações sobre os afazeres do momento, pois, é uma maneira mais rápida e usual de se racionalizar o dia-a-dia, e quando o faço, pego no giz, então sinto a nostálgica energia do passado e suas velhas recordações, e o velho arrepio se apresenta no instante de escrever abrasando-o sobre a pedra.
Esta vida não é apenas onírica, é real, com muitos contratempos, que a tornam uma excelente escola calejando-nos nos seus embates, a luta é renhida, pois, passamos por momentos quase insuportáveis com seus vitupérios a nos assolar a alma.
A grande tempestade se forma mesmo antes de chegarmos a ela.
Passamos por um vestibular inacreditável, pois, somos milhões de concorrentes a esta universidade, a luta ao pódio da vida é renhida e ferrenha...
Enfim chegamos, é um mundo escolar desconhecido, não temos consciência do que aqui viemos estudar e aprender, apenas chegamos e, começa uma enorme encrenca, a vida.
Lutamos pela sobrevivência como embriões na eternidade; a luta é cerrada com nossos irmãos, e depois, não deixamos por menos, continuamos a lutar contra eles na concorrência da vida...
Particularmente comecei como se é normal, tive pais normais, e com mais três irmãos, boas criaturas, com pequenas desavenças entre si...
Somos guerreiros, e como já mencionei a minha obvia opinião sobre os dois poderes que regem nossos atos, o bem e o mal, afirmo que, muito amor e brigas corriqueiras na minha adolescência aconteceram.
Sendo bom, luta-se contra o mal, sendo mau, luta-se contra o bem!
Então, somos lutadores e guerreiros por excelência!
Há uma maneira leve de se levar a vida, "leve a vida, deixando que ela lhe leve", bem, resumindo não leve-a seriamente, deixe-a leve como a pluma, e flutue com ela.
Faça dos seus dias, eterna diversão, esperando sempre nos cuidados de Deus, posto que Ele a todos nós criou, peça sempre ao seu criador, lembrando-se sempre Dele, assim será mais fácil atravessar este deserto escaldante e de dificuldades.
Quando estiver com a mente vazia, então preencha-a com o diálogo dirigido aos oráculos maiores, fale diretamente com o ecumênico Deus.
Faça da oração a sua diversão
Parece leviandade tratarmos desta forma a oração.
Bem... a natureza divina nos ensina que, tudo na vida tem um preço.
Todos nossos desejos custam alguns valores, sejam de ordem espiritual, ou material.
Quando insone, aproveite o tempo para conversar com Deus, ou consigo mesmo, dialogando, agradecendo e pedindo, assim é a mais pura oração que a nós nos ensinaram a orar.
Ao mínimo, você estará ocupando o seu pensamento com o bem, posto que pensar redunda na nossa ação plasmada, portanto, ao pensar no bem, fatidicamente estará praticando-o!
A intenção é a maior de todas as pretoras, ou juízas a nos julgar constantemente.
Somos o que pensamos, ou literalmente aquilo que oramos.
Se quiser ser feliz, ocupe o tempo ocioso em diálogos produtivos com Deus, e simplesmente deixe que Ele tome a sua mente dirigindo-a pelos seus caminhos, descanse seus cuidados nas suas mãos, e estará despojando-se do fardo da preocupação.
O seu problema, é do tamanho do seu pensamento, ou da sua preocupação...
Pense bem, e viva melhor ainda.
Bons pensamentos!
O conceito deste Ser Maravilhoso, o qual chamamos de Deus, é indubitavelmente inefável, ou seja: não dá para se explicar.
Ele se encontra em uma minúscula e invisível, e também poderosa molécula atômica, bem como nos confins dos macros universos...
O sábio, sempre soube que nada sabia, e ficou na redundância do "mesmismo", embora soubesse que nada se repete, existindo uma transformação constante em todas as espécies de vidas no planeta.
A eterna procura do saber...
Lança-se à luta do cotidiano, até porque quando se nasce para esta vida, carece-se de lutar.
Nada está, ou pode viver na inércia.
Leis naturais nos regem a todos e a tudo, e podemos chamá-las de naturais, ou divinas, como desejarmos entender...
Alias... os sábios, redundam na sinonímia vocabular, usando o vernáculo para trocar rótulos, expressando a mesma coisa.
Aqui existe um grande engano, já que nada é igual à nada...
O grande lance está na eterna e infinita maneira de se enxergar os fatos.
Veja, amigo leitor, num pequeno pedaço de giz, posso aflorar o meu mundo particular de recordações, criando-o, vislumbrando o meu homérico, ou lúdico futuro presente.
No caso aqui pautado, ele é um elemento catalisador de boas e más lembranças, inspirando-me ao meu universo mental, e este universo pode ser profícuo, destrutivo, criativo, doentio, ou saudável, tornando o meu mundo feliz, ou inóspito, dependendo de como posso vislumbrá-lo, então posso ser feliz, ou infeliz.
Habitável mundo mental, ou inabitável, trazendo-me felizes recordações, ou acérrimas tristezas etc...
"Recordar o passado, é sofrer duas vezes", bem, não vamos radicalizar, depende de como se vê as lembranças, posto que todos os nossos bons aprendizados encontram-se no passado, até porque o passado pode distar há muito pouco tempo do presente.
Pela lógica, somente podemos recordar o passado.
Ora, ora... nossas alegrias, ou tristezas foram forjadas no nosso passado.
A nossa personalidade está embasada no alvorecer de nossas vidas, onde sofremos e alegramo-nos nos nossos ancestrais, que nos deram seus exemplos de vidas boas, ou ruins...
Jamais nos livraremos do passado, até podemos rever nossas vidas anteriores, posto que temos de resgatar nossos feitos.
Debalde não sofremos, algum motivo muito forte existe para este fato.
Digamos que um astronauta, esteja volatilizando pelo espaço sideral, e não podemos ignorar o seu preparo psicossomático, e diante dos poderosos da terra, é admirado por suas qualidades etc...
E, solitariamente repense no seu particular pedaço de giz... que o faz recordar de muitos aprendizados que o levaram até o espaço.
Quando refiro-me ao giz e ao astronauta, simplesmente rivalizo-os entre a simplicidade e a sabedoria dadas ao homem pela natureza da vida.
Ele pode se aproximar da felicidade através da simplicidade de um pedaço de calcário, ou pela grandiosidade do espaço sideral, vislumbrando a criação divina.
Aqui cabe dizer que, a felicidade está dentro do nosso eu interior, é ele que nos dita os sentimentos necessários para que continuemos a ser o que somos.
O meu giz, é o meu grande mistério, que jamais poderei desvendar a mim mesmo.
Volto a repetir por muitas e muitas vezes aquela velha máxima: "Ao iluminado, tanto faz estar no estábulo como na casa do rei", entendemos que, nesta simples frase se encerra grande sabedoria, posto que a felicidade é intrínseca!
O ser humano que conseguir pensar assim, e agir assim, pode se considerar um felizardo que alcançou a maior benesse de Deus, pois, na simplicidade mora a felicidade.
Saco sem fundo, assim é a índole humana, insaciável em seus desejos, jamais se conforma com o seu dia-a-dia... sempre está lhe faltando alguma coisa.
Podemos presenciar a maldade humana numa constância ímpar, desmesurada, a insatisfação é algo estonteante.
Pode-se ser bem aquinhoado na vida, ou não passar-se de joão-ninguém, porém, sempre terá de se pagar um preço pelo que se é, ou se faz ser, esta é a lei da vida.
Mais uma, entre milhares de vezes, vamos fazer alusão ao amor, o amor é um sentimento sem explicativas, muitos sentem o amor diferentemente, chegando a confundi-lo com o ódio, ouvimos o despautério de alguém, sempre justificando seus crimes apoiado no amor, dizendo que matou por amor, como sempre é a desculpa dos crimes passionais.
O verdadeiro amor jamais comete homicídio, ele é tolerante, paciente, honesto, e de bom-senso.
- Quem somos nós?
Por que existem os homens maldosos, literalmente maldosos, assassinos frios, que não sentem nenhuma dor na sua consciência?
Por mais que tenhamos consciência, ainda assim, nada sabemos sobre os mistérios da vida.
Pensamos sobre a natureza, a impiedosa natureza, onde o mais forte vence o mais fraco, o que é muito óbvio... já aqui, ficamos com a mente tisnada, baralhada, e o nosso consolo fica no provérbio popular: "Deus dá o frio, conforme o cobertor."
Isto, já nos dá a dica de que nada sabemos de nada, porém, resta-nos o consolo de crermos em um Senhor que pode amenizar as nossas dores, e convençamo-nos a nós mesmo de que, é necessário a guerra para que sintamos o sabor da vitória, ou o amargor da derrota.
Feliz, ou infelizmente a vida é assim, e nada podemos fazer, a não ser aquilo que julgarmos seja mais próximo do bem...
Pela fala religiosa, ficamos à mercê de Deus e sua misericórdia, e fazemos prova de que a fé existe, posto que recebemos muitos milagres advindo da fé, fé em Deus, e nos deuses, até porque existem os idólatras que crêem em seus deuses, e também recebem seus milagres...
E, também pode ser traduzido como milagres de espíritos malévolos, ou simplificando, pelo próprio Satanás, o senhor da mentira e de todo o mal, assim apregoam facções religiosas digladiando-se entre si.
O primeiro mandamento da lei divina embasado na Bíblia é, amar a Deus sobre todas as coisas e, em seguida fica muito claro que, não devemos fazer imagens de figura alguma, de nada, absolutamente nada, nem das que existem nos céus, na terra, ou debaixo da terra, e... podemos vislumbrar pelas palavras escritas nos mandamentos dos religiosos que, Deus é zeloso e visita-nos até a quarta geração, com isto afirmando que seremos castigados, e muito, ao não cumprirmos este mandamento.
Em contradição plena a grande igreja católica age de maneira nefasta ao seu próprio mandamento de temer o nome de Deus, embora, afirme peremptoriamente que suas imagens não são para adorações, mas, afrontam o primeiro mandamento mosaico, e que adotaram o fabrico de imagens para seus fiéis.
Somos ecumênicos, portanto, isentos de qualquer partidarismo, apenas estamos mostrando os fatos.
Todavia, recebem seus milagres também.
Começamos escrevendo no singular e passamos para o plural, pelo simples fato de todos nós estarmos inseridos no contexto.
Não estamos preocupados com as regras estruturais da língua, apenas queremos transmitir mensagens que possam elucidar a todos.
Com meu pedaço de giz, pude escrever inspirado nas lembranças do passado.
E, confesso... não poderia escrever com um giz purificado com a cor branca, se a lousa fosse pura também, pão com pão, não dá sanduíche... e branco sobre branco, nada acontece.
Caro leitor, você está com problema com aquele seu filho, pois, saiba, ele faz parte do contexto, embora isso possa trazer-lhe enorme desgosto, bem, assim é a nossa vida, e ela continua, o mundo não pode parar de girar, então levante a sua cabeça, pois: "não há bem que não se acabe, nem mal que sempre dure."
Você acha que o problema é o seu chefe, não, não é, queira me perdoar, ele está dentro de você, pois, seus sentimentos é do tamanho da sua visão, pois, pode enxergar da forma que lhe for conveniente...
Todos temos problemas, a vida é constituída de altos e baixos, de nuanças são feitos os nossos caminhos, e temos de gostar, somos guerreiros, e repito: temos de adaptarmo-nos a luta do dia-a-dia, e a cada vitória sentirmos o prazer de viver.
Arrependa-se, isto é normal, e paradoxalmente não chore o leite derramado, passe uma régua no seu passado e, aplique-se ao aprimoramento do bem no presente, e estará preparando o seu glorioso futuro.
Devemos reconhecer a nossa pequenez, somos do tamanho da semente da mostarda, apenas uma comparação reles diante dos universos - então o que somos?
Em contrapartida temos o nosso universo, e como não poderia deixar de ser, é infinito, haja vista que, posso ficar escrevendo quase que uma eternidade e, jamais faltaria assunto, posto que nada se repete, nada é igual a nada, somos metamorfose a transformar-se constantemente, e este fato nos indica que somos eternos em nossas modificações constantes.
Escrevo compulsivamente, como já aventei anteriormente, pois, sou o senhor do meu pedaço de giz, a mim me foi facultado este direito de expor minhas idéias, que com certeza não são inteiramente minhas, dentro de mim existem outros seres, a me guiar os passos, assim como outros a me atrapalhar a caminhada, para que possa ser humilde e aprender a enxergar que nada sou, apenas um instrumento da vida, desta escola que é, um preparatório às outras plagas.
Calcado nestes fatos, converso diretamente com o Senhor de todos os bens e males, Deus que a tudo e a todos criou, assim creio, e afora a minha jactância, espero ser ouvido, por Ele...
Conto com a sua benesse, e estou sempre pronto nos meus pedidos e, principalmente nos meus agradecimentos por tudo de bom e de ruim que a vida tem me proporcionado.
Viver é, realmente gratificante, dependendo apenas da nossa óptica, podemos ver em nossas tribulações que, em outra análise pode-se dizer que é o mal nos assolando o psicossoma, ou, simplesmente enxergar um belo aprendizado para um futuro melhor.
Recorde-se sempre do seu pedaço de giz, você, com certeza tem um, e faça dele o seu marco de vida, como objeto de estudo para reestruturação de sua vida presente e futura.
Fala-se que, “recordar o passado é sofrer duas vezes”.
Em contrapartida, diz-se também que: “recordar, é viver”
Durma-se com um barulho desses...
As duas frases se nos parecem corretas, já que recordar sofrimento é realmente repetir aquele sentimento de angústia para uns...
E, recordar é, viver, com certeza, qualquer coisa que estejamos relembrando, e de certa forma matando o tempo ocioso é procedente...
O nosso giz, certamente escreveu a nossa histórica passagem por esta vida, cheia de percalços, alegria e dores, então havemos de recordar sim!
E dessa recordação, podermos compará-la com nossas atitudes atuais, e vermos de tivemos alguma evolução do ponto de vista de experiência de vida.
É a oportunidade de avaliação, das nossas provas terrenas, onde viemos para aprender sob a égide do bem, e às vezes também pela do mal.
O bem e o mal, estão sempre ao nosso lado.
Para o masoquista, recordar seus sofrimentos deve ser a glória.
Para aquele que deseja se conscientizar de sua estada aqui na terra, também é, um prato cheio...

Pense bem, e viva melhor ainda.
Bons pensamentos!

No dia de sua soltura, veio a falecer de uma doença da qual foi infectado na prisão, deixando um rastro de grande dor aos seus familiares.

Assim é a vida do ser humano... Repleto de nuanças...

Romance de auto-ajuda
Autor: J.B.Campos

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